miércoles, 17 de septiembre de 2008

GUILHERME DE ALMEIDA

Con él aprendí portugués. Fue él -Morreram jovens para morrer melhor-, sabio y elegante, quien me enseñó a entender y a querer al Brasil. Parece mentira. Pero también fue él, Príncipe dos Poetas Brasileiros, la persona que allá, lejos de mí mismo y de mi tierra de nacimiento, más me ayudó a comprenderme y a saber de dónde soy: soy de unas islas españolas donde se hablaban algunas dulces palabras portuguesas, que marcaron para siempre mi infancia y mi destino... Por eso, a nadie debe extrañar que el poeta Guilherme de Almeida sea el patrono de la Cadeira 41, que tengo el honor de ocupar en la Academia Brasileira de Eventos e Turismo. Por eso, hoy quiero recordarlo con una de sus poesías:

ESTA VIDA

Um sábio me dizia: esta existência,
não vale a angústia de viver. A ciência,
se fôssemos eternos, num transporte
de desespero inventaria a morte.
Uma célula orgânica aparece
no infinito do tempo. E vibra e cresce
e se desdobra e estala num segundo.
Homem, eis o que somos neste mundo.

Assim falou-me o sábio e eu comecei a ver
dentro da própria morte, o encanto de morrer.

Um monge me dizia: ó mocidade,
és relâmpago ao pé da eternidade!
Pensa: o tempo anda sempre e não repousa;
esta vida não vale grande coisa.
Uma mulher que chora, um berço a um canto;
o riso, às vezes, quase sempre, um pranto.
Depois o mundo, a luta que intimida,
quatro círios acesos: eis a vida.

Isto me disse o monge e eu continuei a ver
dentro da própria morte, o encanto de morrer.

Um pobre me dizia: para o pobre,
a vida é o pão e o andrajo vil que o cobre.
Deus, eu não creio nesta fantasia.
Deus me deu fome e sede a cada dia
mas nunca me deu pão, nem me deu água.
Deu-me a vergonha, a infâmia, a mágoa
de andar de porta em porta, esfarrapado.
Deu-me esta vida: um pão envenenado.

Assim falou-me o pobre e eu continuei a ver,
dentro da própria morte, o encanto de morrer.

Uma mulher me disse: vem comigo!
Fecha os olhos e sonha, meu amigo.
Sonha um lar, uma doce companheira
que queiras muito e que também te queira.
No telhado, um penacho de fumaça.
Cortinas muito brancas na vidraça.
Um canário que canta na gaiola.
Que linda a vida lá por dentro rola!

Pela primeira vez eu comecei a ver,
dentro da própria vida, o encanto de viver.

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